Para quem ainda não conhece, Karlisson Bezerra é o criador, autor e desenhista das tirinhas do Nerdson não vai à escola, site que retrata de forma bem humorada e criativa a realidade dos nerds e geeks e que faz muito sucesso, principalmente na comunidade FLOSS.
Profissional das artes gráficas e computação, Karlisson é um profundo conhecedor das ferramentas livres, tais como GIMP e Inkscape, e nessa entrevista ele nos fala mais sobre o seu trabalho, suas experiências e seus planos para o futuro, incluindo, é claro, os planos para o Nerdson:
Para começar, a pergunta básica: quando e como você foi apresentado ao software livre ? Aproveitando, conte-nos um pouco sobre a tua experiência nessa área.
Conheci o Linux (desculpe-me, Stallman) na faculdade, em 2003, no laboratório do curso de ciências da computação. A partir daí foi um lento processo de migração, passando por distros como Mandrake, Slackware, Kurumin e finalmente, Ubuntu.
Em 2005 participei do primeiro evento de SL de Natal, o I EPSL – Encontro Potiguar de Software Livre, onde dei minha primeira palestra, sobre Flash Open Source, e conheci alguns palestrantes como o Aurélio Heckert, da Bahia.Na sua palestra sobre arte livre, ele apresentou o Inkscape, além de outros programas como o GIMP e ImageMagick. Para uma pessoa que trabalhava com arte digital usando aplicativos como o Corel Draw e Photoshop, saber que havia alternativas para Linux foi no mínimo motivador. Eu poderia fazer o que eu mais gostava no Linux! A partir daí comecei a trabalhar com desenvolvedor web num provedor local chamado Diginet usando tais aplicativos.
Algum tempo depois eu estaria criando o Nerdson, em Setembro de 2006. Logo vieram outros eventos, e eu ajudei a organizar alguns deles, como as outras duas edições do EPSL e a nona edição do FISL, como ilustrador e webmaster. Hoje em dia eu trabalho para a Associação Software Livre, faço o curso de Análise e Desenvolvimento de Softwares no CEFET-RN e periodicamente organizo pequenos eventos de software livre locais, além de contribuir com o projeto do Inkscape dando palestras, minicursos, e reportando bugs.
Muita gente te conhece pelo teu blog “Nerdson não vai à escola“,que fala do dia-a-dia dos geeks e nerds de forma bem humorada e criativa. Conte-nos mais sobre o personagem. Como surgiu a idéia decriá-lo ? E uma pergunta que eu sempre quis saber a resposta: ele é autobiográfico ? 😉
Algum tempo depois, no momento em que me vi insatisfeito com o curso durante uma aula de cálculo, tive a idéia de criar o Nerdson, rabiscando nas folhas do caderno, para voltar ao tempo em que eu me divertia desenhando quadrinhos e para expor o quanto eu achava ineficiente a forma como o curso estava se desenvolvendo, apesar de sua importância fundamental.
Naquela época eu estava valorizando muito o trabalho de desenvolvedor web, pois como todos sabem, é onde se “aprende na prática”, buscando informações, comunicando-se com outras pessoas, sendo um “hacker”. Isso me levou a muitas conquistas fora do âmbito acadêmico, como premiações em concursos de jogos e reconhecimento profissional, (coisas que eu nunca teria conseguido se tivesse preso ao curso). Consequentemente, faltava muito à faculdade. Daí o título “Nerdson não vai à escola”, que como vocês podem concluir, é autobiográfico, mas…calma aí! Nem tanto. Algumas tirinhas são pura fantasia, fruto da minha imaginação. =P
Quais ferramentas tu usa para criar o Nerdson e como é o processo de criação das tirinhas?
Recentemente, vi pessoas republicando a tirinha de Eduardo e Mônica, originalmente de 100KB, e salvando em JPG, o que a aumentava para 300KB, aproximadamente (alguma coisa contra o formato PNG, pessoal? :-). Quanto às idéias para as tirinhas, é um processo natural. Posso ter uma idéia ao ler uma notícia, ao usar um programa, no ônibus, conversando com alguém, na aula, antes de dormir… por isso sempre ando com algum caderno na bolsa, e a página de lembretes do meu celular vive lotada. 🙂
Nerdson, ops, quero dizer, Karlisson, você tem experiência na área de webdesign e artes gráficas eletrônicas. O seu talento vai além das mídias eletrônicas também ?
São coisas que me agradam, pois é o que costumo fazer quando estou desplugado da Matrix. Adoro ler, tenho pilhas de livros, quadrinhos, graphic novels, etc, e fico admirando as ilustrações, analisando os traços, as cores e técnicas empregadas. Geralmente estou em alguma livraria, folheando algum livro ou quadrinho.
Quais seus projetos para o futuro ? Existe algo que você gostaria de compartilhar conosco ?
de camisas, livros, compilações das melhores tirinhas, objetos temáticos, entre outras :-).
Um outro projeto a longo prazo é uma graphic novel, cujo roteiro está sendo desenvolvido aos poucos, nas horas vagas das horas vagas =P. Fora do mundo dos quadrinhos, pretendo investir no projeto do Inkscape, tornando-me um desenvolvedor ativo, buscando melhorar a minha ferramenta de trabalho. Ainda não me considero capaz de tal façanha, pois preciso estudar C++ um pouco mais, porém já comecei a desenvolver extensões em Python, o que é relativamente fácil. =)
Para finalizar, tem algo que você queira dizer para os nossos profissionais e artistas da área gráfica que venha a incentivá-los a usar mais software livre, já que parece haver um certo preconceito e até falta de conhecimento do pessoal dessa área com relação as ferramentas livres ? Deixe sua mensagem.
Creio que nem todos realizam trabalhos que exigem bastante do software, logo, não existem desculpas para não usá-los, principalmente quanto ao aprendizado. Há centenas de tutoriais, documentação e grupos de discussão, como a InkscapeBrasil, GIMP Brasil e Blender Brasil.
Bons artistas são bons observadores de defeitos e falhas. Seria interessante se houvesse mais feedback deles. Tais programas, porém, ainda não são tão conhecidos pelos profissionais da área. Os eventos poderiam dar mais espaço para palestras sobre arte livre (algo que, infelizmente, faltou no FISL 9.0) e as faculdades deveriam incentivar o uso desses softwares, o que rende muitos trabalhos interessantes (o Google Summer of Code age diretamente com faculdades, e o Inkscape está na lista de programas inscritos).
Creio que é uma área pouco explorada e com muito caminho pela frente. Acompanhar um projeto como o Inkscape é interessantíssimo, pois pode-se observar como um projeto se desenvolve, quais as reclamações dos usuários, as direções que o projeto toma, a interação entre os desenvolvedores, entre outras coisas, que seriam bem úteis numa aula de computação gráfica de um curso de ciências da computação qualquer.
E pra finalizar uma pergunta para o Nerdson: O lance com a Beta Bitsy é namoro ou amizade ? 😉